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Volta às aulas: como manter os professores motivados

Dandara Flores Aranguiz

Foto: Renan Mattos (Diário)
Na Escola Municipal Chácara das Flores, a contratação de profissionais é comemorada. Na foto, as coordenadoras Eliane dos Santos (à esq.) e Viviane Leal (à dir.) e a diretora Juliana Conrado (ao centro)

SÉRIE ESPECIAL VOLTA ÀS AULAS

  • 1ª reportagem (hoje) - Como manter os professores motivados?
  • 2ª reportagem - Adaptação escolar: como se preparar para mudanças
  • 3ª reportagem - Dicas de como organizar a lancheira dos pequenos
  • 4ª reportagem - Cuidados com o uso das mochilas

É depois do período de matrículas que começa, de fato, o planejamento estratégico e o ano letivo para os gestores das instituições de ensino. Organizar turmas, a recepção, o calendário letivo, discutir projetos e ações são algumas das funções pensadas antes mesmo do primeiro dia de aula pelos profissionais que se dedicam, o ano inteiro, à educação. Mas, talvez, uma das tarefas mais difíceis do diretor de escola seja manter o professor motivado diante de tantos desafios, do dia a dia estressante e de outros fatores que acabam desanimando os docentes ao longo do caminho.

Na rede municipal de ensino de Santa Maria, são 1.554 docentes, segundo a Secretaria Municipal de Educação (Smed). E como manter a qualidade do trabalho?

- Um planejamento do setor pedagógico para identificar as principais demandas de formação para enfrentar situações de crise deve ser feito permanentemente. Qual o papel da mantenedora? Nós temos o olhar técnico, de planejamento da própria rede com o gerenciamento das vagas e do quadro de recursos humanos, mas é preciso olhar para esse profissional também - destaca Gisele Bauer, superintendente em gestão pedagógica da Smed.

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Desde 2017, o Núcleo de Formação e Desenvolvimento Humano (Fordes) da pasta atua em diagnóstico, planejamento e organização de ações de formação voltadas ao corpo docente. Neste ano, a ideia é colocar em prática outras atividades de humanização profissional, com a oferta de oficinas e palestras.

- Fizemos uma pesquisa, no ano passado, com os professores para saber quais as demandas pessoais, e, nesse processo, surgiu a questão da motivação, da gestão de conflitos, de relações humanas e da própria saúde do professor. Agora, estamos em fase de testes e de organização, mas as atividades serão ofertadas pela secretaria aos professores o ano inteiro - explica Cátia Bairro Ferreira, coordenadora do Núcleo Fordes, pedagoga e psicóloga da Smed.

Aulas de meditação, ioga, reiki, dançaterapia e teatro são algumas das opções disponíveis a partir de março aos professores municipais. O apoio psicológico também está na lista dos apontamentos da pesquisa feita com os professores recentemente.

CONTRATAÇÕES

A convocação de 247 novos profissionais em 2018 e de 51 professores para escolas de Educação Infantil e de Ensino Fundamental neste ano é um dos pontos positivos apontados. A Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Chácara das Flores, localizada na região norte de Santa Maria, era uma das instituições que sofriam com o quadro flutuante de profissionais. Atualmente, ela conta com 19 professores e 200 alunos da Educação Infantil ao 8º ano.

- Esse é um dos primeiros anos que temos um grupo formado que se mantém. Porque chegava o final do ano, e o professor voltava para a sua escola, eles não eram lotados aqui. Teve vezes que, de um ano para outro, só ficamos eu e outra professora, todos foram embora. - conta Viviane Arruda Machado Leal, professora e coordenadora pedagógica do turno da tarde.

Os desafios não foram poucos. A diretora da escola, Juliana Cezimbra Conrado, lembra que, no primeiro dia de aula do ano passado, o transformador da instituição estragou, e eles ficaram quatro meses sem energia elétrica:

- Demos aula durante esse período sem luz. Trabalhamos dentro das possibilidades e com esse olhar no aluno e no professor, pois, se a gente não tem um ambiente acolhedor, tranquilo e que dá condições para que o profissional se sinta bem, chega no meio do ano e estão todos doentes, pois a carga é muito grande. Nossa escola ficou muito tempo com um estereótipo ruim, e esse processo de desconstrução que passamos só pode ser feito graças ao engajamento dos professores, que dão a cara para a instituição.

Nas redes de ensino federal e particular, algumas escolas já começaram o ano letivo ontem, mas a maioria dará início às aulas a partir da próxima segunda-feira, dia 11 de fevereiro.

AS DEMANDAS DOS PROFESSORES

  • Saúde dos professores - 77,3% 
  • Atividades voltadas às relações humanas - 65,9% 
  • Gestão de conflitos - 62,9%

Fonte: Núcleo de Formação e Desenvolvimento Pessoal (Fordes) da Secretaria Municipal de Educação (Smed)

NA REDE ESTADUAL, A CRISE IMPACTA NAS SALAS DE AULA

Um dos maiores desafios, porém, tem sido enfrentado, principalmente, por professores da rede estadual de ensino, diante da crise do governo do Estado e, mais recentemente, do parcelamento dos salários. Em busca de melhores condições de trabalho a greve durante o ano acabou estendendo o calendário: em algumas escolas estaduais, as aulas foram concluídas no final de janeiro. Segundo a 8ª Coordenadoria Regional de Educação (8ª CRE), são 2.963 professores lotados distribuídos nas 40 escolas estaduais de Santa Maria.

- A questão da motivação é inerente ao trabalho, pois independentemente do que está acontecendo, a gente tem que buscar, de alguma forma, força para iniciar o ano letivo. E, infelizmente, as perspectivas de melhora não são animadoras. Deveríamos estar, neste momento, pensando em questões pedagógicas, práticas e objetivas, em melhorar a qualidade da escola pública, mas a gente vem com essas questões de subsistência. Faz muito tempo que a gente vem se dedicando pouco ao que realmente faz a diferença, que é o pedagógico - pontua Rafael Torres, diretor-geral do 2º núcleo do Cpers/Sindicato.

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De acordo com Torres, manter esses profissionais na rede também é um desafio, já que muitos estão largando a carreira do magistério ou até migrando para a rede privada ou municipal. E não são só os professores que estão deixando os colégios estaduais. De acordo com o último Censo da Educação Básica, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a rede estadua redução de 4,5% no número de alunos de 2017 para 2018.

A 8ª CRE informou que, durante o ano letivo, realiza a "Formação Continuada com seus professores, abordando temas referentes ao contexto escolar e programas oferecidos tanto em nível federal quanto estadual" e que "compreende que são vários os desafios a serem enfrentados neste ano".

CALENDÁRIO ESCOLAR

Rede Municipal

  • Amanhã - Reunião interna de gestores (diretores, vices e coordenadores pedagógicos)
  • 18 de fevereiro - Cerimônia e jantar de posse da gestão escolar 2019-2022
  • 20 de fevereiro - Início do ano letivo
  • 23 de fevereiro - Evento de abertura oficial e de recepção aos professores

Rede Estadual 

  • 18 e 19 de fevereiro - Reuniões de planejamento administrativas e pedagógicas nas escolas
  • 20 de fevereiro - Início do ano letivo

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